segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Mercado Municipal de Morungaba tem nome de Eleutério Miguel

A prefeita Maria Cecília Pretti Rossi (PSDB) assinou ato, em dezembro, dando o nome de Eleutério Miguel ao Mercado Municipal de Morungaba. Leia perfil do homenageado pela Prefeitura, pai do responsável pelo O Morungaba, jornalista José Aparecido Miguel:

“PERFIL DE ELEUTÉRIO MIGUEL (1917-1984)

Eleutério Miguel, que nasceu em Morungaba dia 24 de agosto de 1917, e faleceu aos 66 anos, dia 19 de abril de 1984, no vizinho município de Amparo, teve sua história de vida dedicada principalmente ao comércio morungabense, iniciando-a com um pequeno armazém no Bairro do Feital e, depois, até 1960, com matadouro de gado e suínos – além de outras carnes – açougue e fábrica de lingüiças, localizado na atual Avenida Araújo Campos.


Neto dos italianos Carlo Meneghel – nome aportuguesado para Miguel Carlos - e Angela Canale, por parte de pai, Eleutério foi um dos nove filhos de Domingos Miguel e Júlia de Moraes Miguel. 
Domingos Miguel, o Mene, e seus irmãos Luiz, Antonio, Maria, Pedro (Piero) e Ana formaram uma grande família em Morungaba. 


Eleutério Miguel era o mais velho dos filhos de Domingos, que morava no Bairro Buenópolis. Seus oito irmãos: Cizillo (Ceziro), José (Zinho), Antônio (Nico), João, Leonídia, Felício, Osvaldo (Vadico) e Euclides (Crídio) – os quatro últimos ainda vivos (31de outubro de 2004). Felício e Euclides vivem em Morungaba. (Nota da Redação: Felício faleceu no início de 2005 – Atualização para O Morungaba em 14/09/2005)

Eleutério Miguel, que muitos chamavam de “Lutério”, casou-se com Helena Roncada Miguel, que nasceu em Morungaba dia 30 de julho de 1922 e faleceu em Amparo, aos 70 anos, dia 15 de novembro de 1992. Ela  era filha de Luiz Roncada e de Hortência Varago Roncada. Eram chamados assim: Lutério da Helena ou Helena do Lutério. Tiveram quatro filhos: Romildo, Carlos Galvão, Airton e José Aparecido, todos ex-alunos do Grupo Escolar “Antonio Rodrigues da Silva”.

Seu açougue, no final da década de 1950, já tinha um nível próximo de um frigorífico – além de lingüiças, fabricava fiambre e mortadela, por exemplo. Fora do mercado local, atendia outros açougues em Itatiba, Jundiaí e Amparo. Eleutério Miguel, paralelamente, dedicou-se também ao trabalho rural. Em sua propriedade – hoje um loteamento próximo da divisa entre Morungaba e Amparo -, plantou uvas, criou bicho da seda, gado, suínos e frangos. 

Teve tanques de criação de peixes também, que comercializava anualmente na época da Semana Santa (principalmente carpas, curimbatás e tilápias), além de pescas individuais e rotineiras. É tido como um precursor da pesca ecológica e do hoje conhecido sistema “pesque-pague”. Preservava pequenos peixes, devolvendo-os à água, já na década de 1950. 

O casal foi seguramente, em meados de 1958, o primeiro a alugar uma televisão, em Itatiba, para uso em Morungaba. (*) Era um teste de recepção que durava três meses, antes da confirmação de eventual compra. A televisão exigia uma enorme antena, a imagem era preto-e-branco. A novela da época era a histórica “O Direito de Nascer”, em sua primeira versão, produzida pela extinta TV Tupi – a primeira emissora de televisão do país. Era tempo da Copa do Mundo de Futebol, a primeira que o Brasil ganhou, na Suécia. A televisão, então uma curiosidade que atraia parentes, amigos e vizinhos, foi devolvida dentro do prazo estipulado. Tinha muito chiado no som e “chuvisco” na imagem. Foram os primeiros tempos de um produto em lançamento no mercado.

O trabalho de Eleutério Miguel e de Helena Roncada Miguel mereceu destaque em um artigo de jornal de Itatiba dia 12 de setembro de 1956, assinado pela professora Ivony de Camargo Salles, que o casal hospedava periodicamente em sua casa – hoje de outro proprietário, mas ainda existente na Avenida Araújo Campos, 154, esquina de Rua 13 de Maio, de frente para o grupo escolar. Eleutério e Helena moraram na Rua 13 de Maio, no atual número 213, quando vieram do Bairro do Feital. É uma residência agora de propriedade de descendentes da família Miguel. 

O casal cuidava do açougue-frigorífico. Eleutério, por exemplo, tratava de compras de gado e do matadouro; Helena cuidava do balcão do açougue. À época, caçada era comum. Eleutério preservava animais prenhes e filhotes. Criticava caçadas e pescas predatórias. Simples, ele, em suas conversas no comércio, descobriu o sabor das ovas de carpa, uma variante comum e assemelhada do famoso, diferenciado e caro caviar.  A professora Ivony de Camargo Salles - hoje nome de escola pública em Itatiba -, no artigo "Louvação" (Ah! Conceição da Barra Mansa, dos tempos do Império!...) assim narrava em  setembro de 1956 em “O Comércio” ou em “A Tribuna” de Itatiba, publicações já extintas:

"Encontra-se carne fresca no açougue todos os dias e na casa do açougueiro-caçador, se a caça noturna lhe foi propícia, há carne de paca, cotia, codorna e até capivara para o visitante. O leitor, por certo, verá exagero nesta enumeração, mas podemos garantir-lhes como verdade: na casa de Helena e Eleutério até ovas de carpa saboreamos, carpas criadas ali mesmo, alimentadas diariamente com farto sangue de boi. Então, é o “caviar” para os amigos, sem os embaraços da alfândega, o luxo do preço e o perigo do enlatamento. Tudo simples, primário e tão bom!", escreveu a professora.

No artigo, com cópia mantida em arquivo da família, ela elogia Eleutério Miguel e Helena Roncada Miguel: "Desse bondoso casal, a Caixa Escolar recebe carne e ossos com fartura, o que possibilita a distribuição de excelente sopa a centenas de crianças pobres".

Vale recordar que seus próprios filhos e os alunos que quisessem partilhavam da mesma sopa à base de fubá. 

A mudança da família, para Amparo, em 1960, foi uma exigência da época, para quem tinha quatro filhos estudando além do grupo escolar. O “Antonio Rodrigues da Silva” era o único do município então. Eleutério foi,  depois de Morungaba, e até o fim da vida, produtor de carvão no Bairro dos Rosas.  Sua família, mesmo com a mudança, manteve fortes vínculos comerciais e pessoais com Morungaba, onde tem residência e negócios atualmente seu filho José Aparecido Miguel.

Este é o perfil de Eleutério Miguel, comerciante, que representa uma numerosa família que fincou raízes de trabalho e empreendimento em Morungaba, desde o final do século XVIII. Miguel Carlos – nome aportuguesado do patriarca italiano Carlo Meneghel -, avô de Eleutério, casou-se em Morungaba em 13 de setembro de 1890, aos 24 anos, com a também italiana Angela Canale, de 25. De Verona, Itália, Carlo Meneghel, lavrador, chegou ao Brasil, junto com a mãe Anna, e a irmã Marianna, desembarcando do navio Borgogne em Santos (SP), dia 7 de fevereiro de 1889”.


O Morungaba, dezembro de 2004.

(*) Correção: foi o terceiro. O primeiro foi Antonio Miguel Sobrinho, o segundo a família Consolin.

Opinião - Sabedoria popular - José Aparecido Miguel

Morungaba elegeu Luvaldo Flaibam e Beto Zem, prefeito e vice-prefeito, como aqueles que podem melhor representar nossa estância climática. Os dois, honrados pelo voto popular, têm muita responsabilidade pela frente para manter e ampliar o desenvolvimento de Morungaba.

Candidatos eleitos - Prefeito, Vice e Vereadores - todos os democratas devemos nos submeter ao resultado das urnas e, comemorações de vitoriosos à parte, contribuir para que a futura administração tenha muito sucesso. Devemos respeitar a vontade da maioria, que sabe votar, sim, como escrevi recentemente. Gente, repito, que sabe o que interessa à sua rua, ao seu bairro, à sua cidade, Estado e País.
Sobre isso, eu me reporto a um artigo recente do colunista Contardo Calligaris, na Folha de S. Paulo, para destacar “a misteriosa sabedoria das multidões, que não é o único argumento a favor da prática democrática”. Ele lembra que acaba de sair um livro divertido, perfeito para uma época de eleições, "The Wisdom of Crowds" (a sabedoria das multidões), de James Surowiecki. “O livro é uma mina de exemplos (...)”, cita.

Tem até quem se apresenta como muito inteligente, que acha que a população é desinformada. Mentira. É informada sim, sabe escolher sim, dentro do universo possível, de acordo com sua realidade. Qualidade, sabemos, é aquilo que atende a nossa necessidade aqui e agora.

O livro de James Surowiecki relata experiências que funcionam mais ou menos assim: reúne-se um grupo de sujeitos com grandes competências específicas para a solução de um problema. Para resolver o mesmo problema, reúne-se outro grupo de sujeitos com competências menores e muito menos específicas. Comparam-se os resultados. Misteriosamente, os resultados do segundo grupo (menos homogêneo e menos competente) são parecidos com os do primeiro (ou, então, são melhores). O fato é que a diversidade dos sujeitos que compõem o segundo grupo parece valer tanto quanto a competência dos especialistas, se não mais. Os chutes e os palpites dos desinformados competem com as decisões argumentadas dos "experts".
Portanto, voto do conjunto da população – pobres ou ricos, mais ou menos letrados, todos nós - é sábio.

O voto da maioria elegeu Luvaldo e Beto Zem. Vencedores, espera-se deles, agora, uma transição política elevada, que privilegie os interesses de toda a sociedade de Morungaba, partidários dos eleitos ou adversários. Torço para que formem uma equipe competente, que traduza a vontade dos seus eleitores.
Sem rabo preso, destaco que a prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, que deixará o cargo, deve ser reconhecida pelo conhecido trabalho que já fez por Morungaba. Ao dar atenção a uma sugestão minha, a implantação em curso de uma Infovia Municipal, ela o fez pelo município, não por mim. Por isso, eu lhe sou grato.

Outro ponto: como cidadão morungabense, estarei constantemente à disposição dos interesses de nossa comunidade, que não se concretizam somente por ações da Prefeitura e da Câmara Municipal, mas pela contribuição e participação de cada um e de todos nós. A democracia também se faz assim.

Parabéns Luvaldo, parabéns Beto Zem. Felicidades para vocês e para Morungaba.


O Morungaba, 3 de outubro de 2004 - Publicado igualmente no jornal "Acontece! em Morungaba!

Opinião - Pedro Zem - José Aparecido Miguel

Passei muitas manhãs de sábados e domingos, conversando com o Pedro Zem, 67 anos, que faleceu dia 6 agora. Era meu vizinho e uma das primeiras pessoas que me recebeu com muita cordialidade, quando voltei a ter uma relação mais constante com a nossa Morungaba, a partir de setembro de 2000. Conversávamos sobre generalidades. O Pedro com o seu falar e jeito simples, lenhador, com todo o seu tamanho e força, era capaz de observar e admirar as flores do seu jardim, com a leveza de alma dos sensíveis. Viúvo, tinha ali seu ponto de referência e lembranças da mulher amada.

Era um aspecto marcante da personalidade dele, que eu acompanhava marcado desde criança pela admiração e respeito aos mais velhos, gente capaz de transmitir sua sabedoria, seja simples, linear ou seja sofisticada. Quando menino, por exemplo, gostava de conversar com o Amadeu Consolim, na escada da mesma casa de hoje, perto da ponte, na Rua 13 de Maio.

O mesmo sentido de conversa boa dou ao meu relacionamento com o Pedro Zem, que dispensava o tratamento de senhor e me chamava apenas de Zé – como meu pai, minha mãe e meus irmãos. Era um trabalhador. Há uns quatro meses, suas doenças circulatórias se agravaram. Passou mal o Pedro. Eu fui vê-lo e animá-lo. Sujeito determinado, não se entregava e, assim, conseguiu se recuperar. Falávamos de tudo. Trabalho, piadas, negócios, política, comércio de lenha e de pedras britadas, folhetas e gramas. Conheci mais minha cidade com ele, que sabia retratar a Morungaba real, com suas belezas e intrigas. Foi vice-prefeito.

Por um tempo, tivemos, junto com minha mulher, uma cumplicidade traduzida em inofensivas explosões. Pedro soltava seu rojão quando sabia que estávamos em casa. Vizinhos, respondíamos com o nosso. Quanto mais tiros, melhor. Minutos depois, de novo. Duas, três, quatro vezes. Ríamos juntos depois. O Pedro, nessas horas, mostrava um coração de menino. Experiência e trabalho duro se misturavam, muitas vezes, com um toque de ingenuidade, permitido apenas, creio, em comunidades pequenas como Morungaba.

Presenteou-me com mudas de flores e dois casais de gansos. Várias vezes moeu cana para a nossa garapa de domingo, onde houve espaço para petiscos, churrasco e cerveja, saúde à parte. Gostava do tilintar de seu sino de bronze e de reunir seus filhos, netos e parentes. E tinha prazer em dirigir seus caminhões de lenha. Conversamos na véspera da eleição de 3 de outubro, naquele sábado à tarde. Estava entusiasmado com a previsão da vitória dos candidatos a prefeito, Luvaldo Flaibam, e vice-prefeito, seu filho e companheiro, Beto Zem, de fato eleitos. Por isso, tenho certeza de que ele viveu momentos de felicidade nos seus últimos dias. Ao telefone, falou da nossa amizade pessoal, mandou-me um abraço. Foi nossa despedida.

Sei que, às vésperas de sua morte, concordou com um amigo comum que precisava descansar, diminuir ritmo de trabalho. Resistia e mostrava, então, preocupação com o futuro dos seus empregados.
É comum alguém dizer que, diante da morte, somos condescendentes. (Ah!, é verdade, temos todos grandezas e miudezas – e quem se achar perfeito que atire a primeira pedra, é o ditado bíblico.) Terei comigo, ao longo do tempo, uma imagem bonita do Pedro Zem. Desconheço outra imagem. Um homem trabalhador, simples, sério, bom. Resta a certeza de que a morte nos iguala a todos, brancos, negros, índios. Estamos tristes, os amigos e parentes do Pedro Zem. A resposta está em um livro de Ernest Hemingway, que escreveu uma coisa assim: não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti. Com a morte de cada homem, morre um pouco de nós. Saudade, Pedro Zem.

José Aparecido Miguel, jornalista morungabense, é diretor da revista M+, Muito Mais Informação da Região Metropolitana de Campinas, www.mmais.com.br . E-mail: jmiguel@mmais.com.br

Artigo originalmente publicado no jornal Acontece! em Morungaba. Outubro de 2004.

Eleições 2004 - Os vencedores em Morungaba e a proposta de governo de Luvaldo Flaibam e Beto Zem

O prefeito eleito de Morungaba, Luvaldo Flaibam, que tem como vice Beto Zem, teve 3.840 votos ou 57,18% do total. Votaram 7.041 eleitores e o número de abstenções chegou a 265, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Luvaldo Flaibam foi candidato pela coligação “União e Trabalho”, formada pelo PTB, PSL, PFL, PMDB e PT.
A atual prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, com o candidato a vice Onofre, pela coligação “Por Amor a Morungaba”, PSDB, PP, PV, PSC, PL, recebeu 2.876 votos (42,82%). Votos em branco: 67; votos nulos: 258. Dia 3 de outubro de 2004, foram eleitos no Brasil 5.518 prefeitos e 51.802 vereadores, exceto os candidatos ao Executivo de municípios com mais de 200 mil eleitores que terão de disputar o segundo turno dia 31 de outubro.

VEREADORES ELEITOS
A Câmara Municipal de Morungaba será formada, a partir de 2005, por quatro anos, pelos seguintes vereadores eleitos: Cláudia Pretti Rossi Cardoso Pinto (PP), que recebeu 355 votos (5,23% dos votos válidos); Paulinho Stella (PSL), 344; Marquinho de Oliveira (PTB), 313; Rita Bahia (PSDB), 307; Joaquim Maria (PSDB), 234; Tomas Fredericci (PP), 200; João Luciano Frare (PTB), 187; Luís Lula Vieira (PTB), 183; e Reginaldo Frare (PMDB), 163 votos. No caso dos vereadores, foram registrados 111 votos em branco e 137 nulos.

PROPOSTAS

Conheça as propostas do prefeito eleito Luvaldo Flaiban e do vice Beto Zem, de acordo com material distribuído aos eleitores durante a campanha:

“Caros Morungabenses:

Com tantas solicitações foi inevitável a nossa união por um mesmo ideal.
Tendo como candidato a prefeito Luvaldo Flaibam e a vice-prefeito Betão Zem, apoiados no trabalho e no respeito ao povo morungabense, nossa coligação é formada pelos partidos: PTB – PSL – PFL – PMDB – PT e conta com 27 candidatos a vereador, baseados na União e Trabalho. Viemos de famílias com tradições políticas, Lucio Roque Flaibam (ex-prefeito) e Pedro Zem (ex-vice-prefeito - *), as quais valorizam a ética, a dignidade e o respeito das famílias morungabenses, pautados nos princípios cristãos e na justiça social.


Com o ensinamento de nossos pais e o vigor de nossa juventude, propomos um governo transparente disposto a receber sugestões para uma Morungaba mais justa.
Estamos confiantes na vontade popular que pede por mudança e não pouparemos esforços em devolver à comunidade o apoio que nos será dado."

Luvaldo será o próximo prefeito de Morungaba

Morungaba elegeu para prefeito Luvaldo André Flaibam (PTB - PTB / PT / PMDB / PSL / PFL), com 3.840 votos, 57,18% do total.

Filho de Lúcio Flaiban, um dos emancipadores do município, ele teve como candidato a vice-prefeito o atual vereador Beto Zem, filho de Pedro Zem, ex-vice prefeito local, ao lado do então prefeito Cláudio Rossi.


Luvaldo Flaiban, que perdeu na eleição passada, derrotou agora a prefeita Maria Cecília Pretti Rossi (PSDB), mulher de Cláudio Rossi, que exerce o mandato pela segunda vez.



04.10.04.

Opinião - Passos para o futuro - José Aparecido Miguel

O Brasil tem cerca de 5.400 municípios. Tem São Paulo com seu dinamismo, sua gastronomia, sua força econômica, com muitos pontos positivos em todas as áreas, que são esquecidos diante de dramas como a violência e o desemprego. Tem o Rio de Janeiro, com sua beleza natural que impressiona o mundo - como impressiona igualmente os assassinatos, o tráfico de drogas, a corrupção. Tem Ubatuba, Guarujá, as praias do Norte e Nordeste, como as de Fortaleza.

De todas as cidades, gosto mesmo é de Morungaba, que está comemorando 116 anos neste dia 29 de junho de 2004.

Em tempo de festa, já tivemos a do peão boiadeiro e vários outros eventos. O destaque, na minha opinião, é a inauguração da Escola Municipal de Ensino Fundamental "Prof. José Hamilton Federicci", no Parque das Estâncias. Nunca esqueço que a qualidade de nosso futuro passa pela educação e pela justiça social.
Quando Morungaba chega aos 116 anos, devemos refletir que nenhum desenvolvimento compensa, se não estiver centrado na elevação da dignidade do homem. O futuro preocupa. Pesquisas oficiais revelam que o Brasil tem a quinta maior taxa de homicídio de jovens entre 67 países analisados pela Unesco. É triste saber que de cada 100 mil brasileiros na faixa de 15 a 24 anos, 54,5 foram assassinados em 2002. E que, na mesma faixa etária, mais de 1,3 milhão de jovens buscarão uma vaga no mercado de trabalho em 2005.
Nesse cenário, onde 25% dos filhos da elite bebem demais, cinco mil brasileiros, em meio à crise econômica do ano passado, conseguiram seu primeiro milhão de dólares. Num Brasil de 179 milhões de habitantes, existem cerca de 80 mil milionários, que detem uma fortuna total de US$ 1,75 trilhão.

Tamanhas distorções apenas serão reduzidas significativamente com educação e com uma política econômica que, a médio e longo prazos, tire o País da posição de refém do mercado financeiro, realidade que parece estar muito distante. Como? Pagando menos juros, investindo em obras geradoras de emprego, a exemplo de criação e manutenção de rodovias, portos, etc. Obras que criam infraestrutura de desenvolvimento, ajudam a ampliar exportações.

A educação, mais que tudo, é a ferramenta maior para que a sociedade possa encontrar seu melhor caminho. Ela nos livra de preconceitos, nos coloca em sintonia com exemplos de desenvolvimento, equilíbrio social e político, além de criar lideranças capazes de dar uma contribuição maior para a sociedade.
Morungaba, com seus 10.500 habitantes, é um microcosmo do Brasil. Nem tudo merece elogio. Às vezes, parece estar muito além da realidade das contribuições dos grandes centros, embora fique tão perto de um centro de excelências como Campinas e a 103 quilômetros da capital paulista.

Mas Morungaba já deu passos essenciais para o futuro. Escrevo assim para destacar a Infovia Municipal, instrumento moderno de conhecimento e educação, que foi tema recente de palestra do professor da Universidade Estadual de Campinas, Leonardo Mendes, nos Estados Unidos. Espero que, ainda este ano, a infovia comece a se concretizar, com a força da vontade política da prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, que assumiu este importante projeto.


O Morungaba, junho de 2004 - Publicado também no jornal "Acontece! Em Morungaba".

Morungaba é destaque em evento da Unicamp

O projeto de Infovia Municipal de Morungaba, estância climática de 10 mil habitantes a 42 quilômetros de Campinas (SP), é um dos destaques do Espaço Funcamp de Políticas Públicas, programa realizado pela Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) e pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade. O evento, dia 19 de novembro de 2003, debaterá o tema saúde nas políticas públicas municipais.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vai divulgar e colocar em análise e discussão quatro importantes projetos e programas nesta área: Saúde na Família, Comunidade Saudável, Rede de Municípios Potencialmente Saudáveis e Infovia Municipal. Cada um destes programas tem oferecido soluções para os problemas e dificuldades mais freqüentes apontados pelas Prefeituras no setor da saúde.

O Espaço Funcamp de Políticas Públicas, em seu segundo ano, tem como objetivo aproximar as prefeituras da Universidade, criando um ambiente propício a novas parcerias e difundindo idéias inovadoras que vêem dando certo. Para a universidade é a oportunidade de divulgar projetos existentes e conhecer melhor a demanda e a realidade dos municípios. Para as prefeituras é o momento e lugar certo para atualizarem-se, trocar experiências, além de conhecer soluções que podem ser aplicadas na prática, segundo a Funcamp.
O tema deste ano foi escolhido por uma enquete realizada no site do Espaço Funcamp. Os quatro programas escolhidos já estão em andamento e apresentarão resultados já alcançados até aqui. Todos têm ligação com a Unicamp. Eles vão desde um programa internacional ligado à Organização Panamericana de Saúde - a Rede de Municípios Potenciamente Saudáveis, passando por um projeto conseqüente da união de vários centros de pesquisa, até uma solução apresentada pela Unicamp para o gerenciamento de dados dos almoxarifados de saúde de Campinas.

O evento promovido no ano passado teve como tema a Lei de Responsabilidade Fiscal e contou com mais de 400 inscritos, de 64 prefeituras. Este ano a Funcamp espera a mesma quantidade de participantes, porém com um número maior de municípios. Já estão confirmadas presenças de mais de 70 prefeituras.
A Infovia Municipal de Morungaba tem aplicações tecnológicas para a melhoria da gestão do setor de saúde dos municípios. Trata-se de Infovia Municipal em implantação em Morungaba, projeto desenvolvido pela Unicamp para integrar a comunicação e os serviços do município, é uma rede de alta velocidade baseada em tecnologias ópticas e de radiofreqüência com utilização da Internet. "A Infovia segue um conceito parecido com o de via pública. Sendo pública, pretende-se uma via de comunicação aberta, capaz de oferecer todo tipo de serviço: telefonia, Internet, videoconferência, atendimento à saúde, serviços comunitários de comércio eletrônico, ensino a distância, transmissões de TV e rádio comunitários via web e vários outros", explica o professor Leonardo de Souza Mendes, do Departamento de Comunicação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), que está coordenando a implantação do projeto.

Leonardo Mendes acredita que os principais impactos trazidos pela infovia ocorrerão na saúde e na educação. O projeto em Morungaba prevê a distribuição do "cartão-cidadão". Com ele o indivíduo vai se fazer representar dentro da rede. Na área da saúde, os pacientes, e não apenas as autoridades, terão acesso a dados que indiquem a qualidade de um hospital, como número de médicos, enfermeiros, leitos e equipamentos. Escolherão o médico de preferência através de seu histórico. Agendarão consultas e depois poderão encomendar medicamentos da farmácia, que receberão as receitas também via rede.
Uma idéia mais futurista, admite Mendes, seria a estação médica on-line. Passando mal na rua, a pessoa seria colocada numa estação equipada para obter medidas básicas como pressão, temperatura e visão de fundo de olho; recebendo as informações no hospital, o médico faria um diagnóstico imediato, aviando receita para a farmácia mais próxima, onde o paciente tomaria o remédio na porta. Outra aplicação futura seria a UTI móvel, que permitiria o monitoramento do paciente à distância, substituindo o ambiente impessoal dos hospitais pelo calor humano na residência.


O Morungaba, 19 de novembro de 2003.

Opinião - Página virada - José Aparecido Miguel

Manhã de sábado, 20 de dezembro de 2003, dia bonito na querida Morungaba de destacada qualidade de vida. É bom começar o dia com amor. Pedem-me, aqui, que escreva uma retrospectiva do ano. É uma página virada, mas vale refletir sobre o passado para caminharmos para a frente. Lula tomou posse, a economia sob o novo governo seguiu nos moldes de Fernando Henrique Cardoso, o aperto aumentou para pagarmos juros ao sistema financeiro internacional, avançamos em combater a corrupção pois é rara a notícia de prisão de juiz e de ex-governador, já que a coisa só sobra geralmente para gente humilde. Lembremos as filas de velhos e aposentados. O Senado, a pedido do governo, manteve o Imposto de Renda de 27,5% - seria de 25% em 2004, mas União, Estados e Municípios seriam prejudicados.
Por favor, usem bem o dinheiro para tirar o Brasil da pobreza geral.

PESQUISA da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que o nosso País está entre os três países latino-americanos que menos investem em saúde pública. No ranking da OMS, o país só vence Paraguai e República Dominicana. Para se ter uma idéia, o governo argentino gastou três vezes mais que o brasileiro, escreve o jornal Correio Braziliense.

A NOSSA POLÍTICA EXTERNA tornou-se positivamente mais dinâmica e internamente assistimos o PT expulsando uma senadora e deputados, tidos como radicais por defender posições históricas do próprio partido. É a velha história: falar, criticar é fácil; fazer bem é diferente. Lula, num ano difícil, sofreu poucos arranhões em sua imagem, talvez abusando de seu carisma. Uma das últimas dele, em jantar do partido: "O Zé Dirceu, às vezes, chega de terno no Congresso e volta só de cueca". Mas uma pesquisa do Ibope pede atenção: a popularidade do governo Lula se estabilizou: 43% dos entrevistados o consideram regular e 41% ótimo ou bom. O índice de aprovação do primeiro ano de Lula foi de 41%, perto dos 43% do primeiro ano do primeiro mandato de Fernando Henrique. É o que chamam de empate técnico nas estatísticas.

LULA, no dizer do sociólogo Francisco de Oliveira, que deixou o PT, tem o papel de ser a liderança carismática responsável pelo governo, posto que ela projeta uma sombra de proteção e encantamento sobre os processos reais. A linguagem é simbólica, mas eu repito o alerta deste importante intelectual brasileiro: "Quando a própria liderança carismática não tem consciência desse papel que lhe é imanente, então a política como atividade dos cidadãos corre um sério risco, pois o mito anula a política. Aos cidadãos cabe recuperar o sentido da política e o primeiro e essencial passo é desmistificar o mito".

EM POLÍTICA, acredito, como em quase tudo na vida, o que vale é a ação coletiva. 2003 é uma página virada. O Brasil precisa de desenvolvimento e uma ferramenta essencial é a educação, a informação que nos faz entender, manter e mudar nossa vida, nossa realidade. Morungaba merece destaque quando a Prefeitura cuida da implantação de duas novas escolas (Parque das Estâncias e Vila Mariana), quando se empenha politicamente pela realização de uma Infovia Municipal – essa minha menina dos olhos – ou investe em turismo e na infra-estrutura de um Distrito Industrial, ambos geradores de emprego.

(Bem, prefiro não falar em guerra, em George W. Bush, Saddam Hussein, etc. É preciso refletir se os homens se matam pelo bem coletivo ou para atender suas ambições pessoais, políticas e partidárias.)

SOMENTE COM DETERMINAÇÃO, suor, criatividade, dedicação e trabalho poderemos avançar na vida e no País. Sou partidário do otimismo, da boa vontade, da solidariedade, do fazer bem. Não adianta chorar o leite derramado. Importa o que farei no próximo minuto, que contribuição darei a mim mesmo, à minha família e à sociedade. Muita paz, muita saúde, felicidade para todos os que me lêem. Amanhã vai ser outro dia, já cantou o poeta Chico Buarque. Foi um ano difícil para todos nós e a promessa, claro, é de que 2004 será melhor. Boa sorte. Fiquem com Deus.


O Morungaba, 20 de dezembro de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - O futuro dirá - José Aparecido Miguel

O PT acaba de sofrer uma derrota política que somente será sentida com o passar do tempo. O sociólogo Francisco de Oliveira, professor titular (aposentado) de sociologia do Departamento de Sociologia da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), da USP, e coordenador-executivo do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania-Cenedic-USP, um dos seus fundadores e intelectual dos mais respeitados, o deixou por intermédio de um artigo publicado na Folha de S. Paulo. Ele escreve: "Não votei no PT para que conduza uma política econômica desastrosa, uma caça às bruxas ressuscitadora das piores práticas stalinistas, um conjunto de políticas que fingem ser sociais quando são apenas funcionalização da pobreza". Se fosse crítica da oposição petista, seria motivo de desconfiança. Mas, partindo de Francisco de Oliveira, é preocupante. Ele termina seu artigo citando que o presidente Lula é a liderança carismática responsável pelas transformações registradas no partido. E completa: "Quando a própria liderança carismática não tem consciência desse papel que lhe é imanente, então a política como atividade dos cidadãos corre um sério risco, pois o mito anula a política. Aos cidadãos cabe recuperar o sentido da política e o primeiro e essencial passo é desmistificar o mito".

PROPAGANDA - O jornalista Joelmir Beting, um profissional sério e respeitadíssimo no nosso meio, aceitou fazer propaganda de um fundo mútuo de um banco, como o leitor pode acompanhar pela televisão. Por isso, os jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, mais destacados, deixaram de publicar sua coluna, que continua sendo divulgada em outras publicações de menor repercussão. Ao fazer propaganda, perdeu a isenção para comentar economia relacionada ao banco que divulga e ao sistema financeiro. É o meu entendimento, como o de outros jornalistas. Mas a nossa categoria deveria atentar para um comentário do competente Joelmir Beting, colocado em artigo dele sobre o episódio. "Transparência, eis a questão. Anunciar fundo mútuo, carro zero ou creme dental não faz mal à população. O que, no jornalismo, coloca o povo brasileiro em perigo (e a ética da profissão, na sarjeta) é o antigo e até festejado merchandising jornalístico de caráter político, partidário, ideológico, cultural, religioso, militante. Isso não é informação. É manipulação. Ou desinformação. De tal gravidade que não está sequer em discussão no jornalismo, o agente; e, muito menos, na sociedade, o paciente".

ÁLCOOL - É próprio da propaganda usar a credibilidade de profissionais de destaque para vender seus produtos. Assim é com Joelmir Beting em relação ao banco e com o jogador Ronaldo, um fenômeno do futebol, com a cerveja. Bebida alcoólica, porém, não combina com vida de atleta. Por sinal, tem bares que colocam cartazes informando que o "álcool faz mal à saúde e à sociedade". Mas o vendem. Essa é a nossa sociedade.

COMÉRCIO - A realidade contraria a vontade de que a economia se recupere o mais rapidamente possível, se bem que o presidente Lula venha elogiando o cenário econômico. O volume de vendas do comércio varejista teve em outubro a 11ª queda consecutiva mensal na comparação com o ano anterior, escreve a imprensa. O recuo foi de 3,04% em relação a outubro de 2002. No ano, chega a 4,96%. Pior: segundo o economista Nilo Macedo, do IBGE, só um resultado "excepcional" e improvável nos meses de novembro e dezembro inverteria a situação.

SADDAM NA INTERNET - O presidente George W. Bush, que se beneficia em sua candidatura à reeleição, e os Estados Unidos conseguiram o seu troféu: prenderam o ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein. Analistas comentam que a resistência iraquiana sofre um golpe duro, mas que ela prosseguirá. A população iraquiana, como os palestinos e os judeus, segue conceitos religiosos em relação às suas terras. Olham os norte-americanos e seus aliados, no Iraque, como invasores. Ainda sobre a ocupação do Iraque, vale registrar imagens de passado recente – no conflito com o Irã -, mostrando importantes autoridades dos Estados Unidos cumprimentando Saddam Hussein, a quem apoiaram por um período. As imagens estão na Internet.


O Morungaba, 17 de dezembro de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - Idade, violência e economia - José Aparecido Miguel

VAI FALTAR FERRO - Parte representativa da elite brasileira precisa tomar vergonha. Em vez de pedir mais Febens - o plural de Fundação Estadual do Bem Estar do Menor -, e mais presídios, deveria ajudar o Brasil a ter um futuro melhor, baseado na educação, na saúde, na habitação. A elite, assim, poderia ajudar seus filhos, netos e bisnetos. No atual quadro de deterioração social do País, a solução, com certeza, não está em prédios murados, condomínios fechados, arame farpado, caco de vidro em muros. A afirmação é simbólica, claro: se nada for feito, com visão de pequeno, médio e longo prazos, especialmente a médio, vai faltar ferro para tanta grade de proteção.

IDADE E VIOLÊNCIA - É chocante a violência que impera principalmente nos grandes centros urbanos. Eu me solidarizo, obviamente, com os familiares da estudante, Liana Friedenbach, de 16 anos, e do seu namorado Felipe Silva Caffé, de 19 anos, que movidos pela juventude, foram acampar no município de Embu-Guaçu, onde acabaram assassinados por um menor e seus cúmplices. Havia um maior também. Daí - em meio à comoção provocada pela tragédia -, querem estabelecer a maioridade aos 16 anos. Não vai resolver. Se você é pai de um jovem de 18 - ano da maioridade -, 20 ou 22, até um pouco mais, certamente sabe que a maturidade de cada um varia muito. E varia muito mais em gente que vive em condições inteiramente precárias. A apresentadora Hebe Camargo, aquela "gracinha" que sempre se alinhou politicamente ao atraso, afirmou que, se entrevistasse o menor, acusado de planejar as mortes de Liana e Felipe, jovens Felipe, mataria o assassino. Não é o papel de uma formadora de opinião.

PERIFERIA E IGREJA - Morreram, infelizmente, dois jovens de classe média alta. Mas saiba, leitor, que certamente neste exato momento, na periferia de uma grande cidade, haverá uma jovem sendo violentada, talvez até no próprio ambiente familiar. Alguma coisa precisa ser feita, é verdade, mas estranha-se que até o respeitável ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Aloísio Lorscheider, saia apoiando a redução da maioridade. Ainda bem que o atual o presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, disse ser contrário à proposta dele. Melhor seria que a Igreja deixasse de combater o controle da natalidade, que especialmente a classe média católica, com educação e livre arbítrio, já pratica há anos, em nome do planejamento de um futuro melhor para seus filhos. É isso: contra a violência, educação; contra a fome, educação; contra a miséria, educação; contra o atraso, educação, emprego, desenvolvimento, habitação, saúde. O resto, em síntese, é hipocrisia.

ECONOMIA E CRIANÇAS - O ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) atribuiu o crescimento do trabalho infantil no país - de 50% de janeiro a setembro, segundo o IBGE - ao ajuste econômico feito pelo governo Lula, que fez subir o desemprego. Segundo Cristovam Buarque (Educação), na Folha de S. Paulo, Lula está "preocupado, triste e descontente" com a situação.

DESTRUIÇÃO INDUSTRIAL - Do professor da faculdade de economia e política da Universidade de Cambridge, Estados Unidos, o coreano Ha-Joon Chang, 40: o Brasil deveria rejeitar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), pois o país é o único que tende a perder com a implantação de uma zona de livre comércio na região. "Sua indústria seria destruída", afirmou em entrevista. "Se você é El Salvador ou Equador, não tem muito a perder. São países que não têm uma indústria, de qualquer maneira. Mas o Brasil tem muitas potencialidades que podem ser destruídas. Vocês podem ganhar no curto prazo com mais acesso ao mercado agrícola, mas, e a longo prazo?"

CIDADANIA - Está se realizando em Morungaba o recadastramento eleitoral. Faça o seu. É importante; é um documento solicitado constantemente. E você pode votar e escolher quem quiser.

O Morungaba, 20 de novembro de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba".

Opinião - Eleições e propostas - José Aparecido Miguel

A política eleitoral de Morungaba entra em aquecimento com a aproximação do novo ano - um ano de eleições municipais. Há quem diga que a prefeita Maria Cecília Pretti Rossi (PSDB), não se candidatará à reeleição. Respeito, mas duvido. Melhor: não acredito. Tem-se como certa uma nova tentativa de Luvaldo Flaibam, que nunca exerceu cargo público, mas carrega o prestígio de ser filho de Lúcio Flambam, o Lucílio, ex-prefeito, que eu conheci quando criança. Luvaldo tem ainda a marca e o apoio do grupo de Nabi Abi Chedid, hoje reserva de deputado. Aparece também, dizem, o vereador Ricardo Consolim de Azevedo, do Partido Verde (PV), criado recentemente e que tem como presidente municipal o irmão dele, Edil Consolim de Azevedo. O PV, em São Paulo, abriga gente de prestígio como o respeitado ex-petista Eduardo Jorge, que foi secretário municipal de Saúde de Marta Suplicy. Fala-se também e candidatura do PL. Surgirão outros nomes certamente. Por mim, tudo bem. Quem quiser, envie e-mail, escreva, que eu divulgo. Embora não vote em Morungaba, vou apoiar aqui quem estiver claramente alinhado com a proposta de Infovia Municipal já iniciada pela prefeita Maria Cecília Pretti Rossi; quem privilegiar o turismo como fonte de desenvolvimento local, juntamente com a atração das chamadas "indústrias limpas" ou de tecnologia - o que pode ser facilitado pela pretendida infovia - uma idéia de versão inicial minha. Terá meu apoio quem cuidar de um Código de Obras e Urbanismo para um crescimento adequado da cidade. Há outras necessidades. Portanto, voltarei ao assunto, antecipando que criticarei políticas mesquinhas que, eventualmente, venham a destruir o que já foi feito de bom pela sociedade de Morungaba, em sua história, independentemente de seu eventual prefeito ou prefeita.

ITATIBA-MORUNGABA-CAMPINAS - Seu nome apareceu por vários pontos de Itatiba, mas o então deputado estadual Adilson Rossi, do PTB, que se apresentava como representante local, perdeu o lugar para o vereador de Campinas, Jonas Donizette Ferreira (PSB), que acaba de ser diplomado na sede do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Donizette solicitou recontagem de votos, pois eles foram considerados em uma candidatura do PTB, indeferida antes das eleições. O partido de Adilson Rossi vai recorrer. Para Morungaba, é bom que ambos estejam próximos, sejam de municípios vizinhos.

JUSTIÇA E IGUALDADE - Um sentimento da população foi traduzido e ampliado recentemente pelos veículos de comunicação, com palavras fortes do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles. Ele disse, em palestra para advogados, que o tratamento dispensado pela Justiça e pela sociedade não é o mesmo para o "Zé Pretão" e para os senadores impunes, mesmo tendo desviado recursos públicos e ofendido os direitos humanos. José Sarney, que já foi Presidente da República, saiu em defesa do Senado, que hoje preside. Nas esquinas, com certeza, há o murmúrio que não quer calar em defesa do "Zé Pretão" ou, numa linguagem mais amena, de um popular qualquer.

ECONOMIA, POBREZA E PESQUISA - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu reduziu a taxa de juros em um ponto percentual, fixando-a em 19% ao ano, que continua, assim mesmo, elevadíssima, como acontece também no crediário das lojas. A nova taxa deverá vigorar até, pelo menos, o dia 19 de novembro, data da próxima reunião do Copom. Reação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo, Horácio Lafer Piva: "Não nos surpreende que algumas pesquisas estejam atestando a dificuldade dos empresários em ajustar seus estoques e recuperar sua saúde financeira". Paralelamente, a renda do trabalhador brasileiro nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil - Recife, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo - caiu 14,6% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em dinheiro, perdeu o equivalente a meio salário mínimo. Enquanto isso, pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte mostra que a avaliação positiva da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve a maior queda desde o início do governo: diminuiu de 48,3% em agosto para 41,6% este mês. Os juros, salários e humores - além do gigantesco desemprego - começam a gritar por uma mudança de rumos na economia brasileira.
O Morungaba, 22 de outubro de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - O que li - José Aparecido Miguel

A cada avaliação, de diferentes setores da vida brasileira, percebemos o quanto difícil é dar um desenvolvimento digno ao Brasil e aos brasileiros. Pesquisa mostra que 67% dos brasileiros não entendem o que lêem, escreve o jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul. Apenas 25% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são capazes de ler, entender o que está escrito e escrever corretamente, enquanto 8% são analfabetos, de acordo com pesquisa de uma organização não-governamental ligada ao Ibope. Outros dois grupos formam os chamados "analfabetos funcionais": embora saibam ler e escrever não têm como usar esse conhecimento para entender mais de uma frase. Eles constituem 67% dos brasileiros.

RESTA TORCER por um futuro melhor: para tentar reverter este quadro, o Ministério da Educação lançou o programa Brasil Alfabetizado. Seria a maior ação de voluntariado da história. A expectativa do ministro da Educação, Cristovam Buarque, é que, no decorrer dos próximos quatro anos, um exército de 100 mil componentes ensine 20 milhões de brasileiros a ler e a escrever. A Confederação Nacional da Indústria vai participar do mutirão por meio do Sesi, comprometendo-se a assumir sozinha 10% da meta, escreve o Jornal do Brasil.

É ASSUSTADOR o quadro da segurança pública brasileira, especialmente nas grandes cidades. Lógico que temos bons policiais, mas há um descaso enorme com os desmandos que vêm a público, a exemplo da morte do chinês Chan Kim Chang, que ganhou o noticiário nacional e internacional. É difícil avaliar o quanto o País e os brasileiros perdem com isso. Leia: o secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, admitiu que a polícia no País usa tortura como método de investigação e reconheceu que a PM do Rio se excede no uso da força. Tim Cahill, pesquisador da Anistia Internacional, afirmou que a morte do chinês Chan Kim Chang, torturado no Presídio Ary Franco, "é a ponta de um iceberg", segundo O Globo. Garotinho disse que Chang morreu depois de ter sido "profundamente espancado". Uma das testemunhas citadas por Garotinho é um estrangeiro que estava preso na cela vizinha a do chinês, naturalizado brasileiro.

TRECHOS DE ARTIGO do jornalista José Neumane, em O Estado de S. Paulo: "Chang foi preso irregularmente, como também o foi outro brasileiro, Valdinei Sabino da Silva, garçom com ficha na polícia, acusado por engano da morte do empresário José Nelson Schincariol, em Itu. Silva (...) foi preso porque não tem onde cair morto e a polícia precisava de um suspeito para saciar as feras da curiosidade popular. Chang morreu porque o que tinha na certa aguçou a cobiça de seus algozes", escreve Neumane. Pior: um juiz mandou prender um inocente, Silva, e se esqueceu de autorizar sua soltura imediata depois que a Polícia descobriu os verdadeiros assassinos.

TEM BOA NOTÍCIA: o Ministério da Saúde divulgou dia 3 as listas de medicamentos que terão de reduzir seus preços. Os itens são produzidos por laboratórios que descumpriram o acordo firmado com o governo no final do ano passado. As reduções de preços finais – nos balcões das farmácias – devem ser sentidas pelos consumidores de 150 apresentações, divulga a Agência Brasil, do governo.

OUTRA BOA: As reservas conhecidas de gás natural do Brasil praticamente triplicaram com a informação de que a Petrobras reavaliou o volume de um reservatório encontrado em abril na bacia de Santos (SP) de 70 bilhões de m3 para 400 bilhões de m3. As reservas totais conhecidas no país aumentam, agora, de 231 bilhões de m3 para 631 bilhões de m3, escreve a Folha de S. Paulo. Com o reservatório recém-descoberto, as reservas comprovadas de gás do Brasil se aproximam das comprovadas da Bolívia, avaliadas em 680 bilhões de m3. O novo reservatório tem capacidade para produzir 55 milhões de m3 de gás por dia durante 20 anos, o que supera toda a produção atual da Petrobras, no Brasil e no exterior.


O Morungaba, 10 de setembro de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - Radares, câmaras e Marinho - José Aparecido Miguel

Quem tem paciência para ler esta coluna, sabe que sou um defensor de novas tecnologias a serviço do desenvolvimento humano. Sabe também que sou favorável aos radares instalados na Rua Araújo Campos, às vezes com dúvidas sobre o limite imposto - 50 quilômetro por hora, como é; ou 60 quilômetros, como alguns ponderam. É importante que haja limite. Há quem pense diferentemente, mas a Araújo Campos não é uma rodovia. É uma rua - melhor seria avenida - em área claramente urbana. Existiam dois radares; recentemente foram colocados mais dois, justamente nos dias em que se resolveu, dos gabinetes frios de Brasília, que são dispensáveis as placas de alerta de fiscalização eletrônica. Sou contra. As placas têm caráter educativo, sabem muitos especialistas de trânsito. Sem elas, fica evidente que a prioridade é a arrecadação. Entendo que a Prefeitura de Morungaba ganharia em imagem positiva - como uma estância politicamente correta no trato de seus moradores e visitantes -, se colocasse placas bem visíveis, junto ao acesso de perímetro urbano, alertando, por exemplo, "Você está entrando na Rua Araújo Campos. Cuidado: velocidade controlada por radar".

A TECNOLOGIA DO RADAR nos conduz a uma outra, voltada para a segurança do cidadão, as câmaras que Morungaba projeta instalar. Considero um avanço, apóio, mas precisará de um rígido controle para que não se torne instrumento de invasão de privacidade - coisa que a sociedade de nossa cidade pode acompanhar, via Câmara Municipal e lideranças da comunidade. Um amigo dá um exemplo, corriqueiro para quem freqüenta os maiores shoppings centers em Campinas ou São Paulo. O cidadão entra numa loja de alto padrão, a câmara o acompanha. Sai de lá carregado de produtos caros (para quem o vigia, pelo menos). A câmara segue o cidadão até o seu carro, até que deixe o shopping, etc. Pergunta-se: quem fiscaliza o vigia, um informante privilegiado, que a gente nem vê?

VIA SATÉLITE, que foi usado pelos Estados Unidos no Iraque, os produtores de laranja norte-americanos conseguem saber se nossa safra aumentou ou diminuiu pé por pé, segundo O Globo. Acontece a mesma coisa com a soja, etc. Só não se consegue acabar com plantios de maconha e cocaína, situação que ninguém explica. O Brasil, no exemplo dos laranjais, é fraquíssimo nesse ambiente de vigilância comercial, mais um ponto que preocupa dentro das negociações para a formação da Alca-Área de Livre Comércio das Américas.

JÁ HÁ UM CERTO CANSAÇO DO ASSUNTO, eu sei. Roberto Marinho - tão elogiado agora na hora da morte - era, sim, motivo de críticas, inclusive do então líder sindical Lula. Mas foi, sem dúvida, um empreendedor de primeira linha, competente, especialmente na área de Comunicação. Marinho foi, certamente, um dos homens mais poderosos do Brasil nas últimas décadas. Estive com ele uma vez em 1994, quando já demonstrava cansaço, às vésperas de seus 90 anos. Sofria restrições ideológicas pois era um conservador, como é conservador todo dono de um grande veículo de comunicação, principalmente quando se alcança o gigantismo da Rede Globo de Televisão, a já chamada Vênus Platinada. (Deus nos Livre de uma Globo nas mãos de progressistas irresponsáveis.) O brilho atual, na realidade, é ofuscado por uma grave crise econômica que envolve todo o setor. O Grupo Globo, com problemas na área de televisão por assinatura, tem uma enorme dívida, envolvendo inclusive o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. "É impagável", escreveu o jornalista Paulo Henrique Amorim, diretor do site UOL News e comentarista da Rede Record.

Pensamento linear: Os Estados Unidos e o mundo ocidental lutaram décadas pela derrubada do Muro de Berlim, resultado do nazismo. Os Estados Unidos e o mundo, em 2003, assistem nascer um muro para separar palestinos de Israel.


O Morungaba, 13 de agosto de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - Nosso difícil caminho - José Aparecido Miguel

Sou cético em relação ao futuro do desenvolvimento brasileiro. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, uma esperança que precisa dar certo, para não perdermos mais quatro anos, parece engessado pela influência da economia internacional, especialmente dos países ricos, como os Estados Unidos, sobre os nossos frágeis recursos. A economia brasileira está devagar, quase parando. Até na indústria de alimentos, num Brasil carente deles, há queda de produção e, portanto, de consumo. O novo governo, para agradar o insaciável mercado financeiro internacional, ofereceu ao mundo, espontaneamente, um aperto fiscal e monetário ainda maior que o praticado no período de Fernando Henrique Cardoso. O ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda) já admitiu mais aperto numa eventual negociação de empréstimo do Banco Mundial. Fica a idéia de que o governo mexe numa ponta na esperança de melhorar a situação e prejudica outro lado de sua administração. Estamos amarrados em várias pontas e dependentes de acordos internacionais. Enquanto se discursa, acenando com uma melhora futura, a partir de 2004, lê-se que o governo de Lula completou cinco meses sem ter usado um único centavo da verba que o Orçamento reserva para investimentos em saneamento, habitação ou organização agrária, segundo a Folha de S. Paulo. Há o problema dos juros, das reformas que o País precisa, da fome que o governo prometeu saciar, do desemprego. Já há vaias, companheiros protestam.

O PT CHEGOU AO GOVERNO. E espalha polêmica e dúvidas, mesmo com a alta popularidade de Lula. O sociólogo Francisco de Oliveira, que participou da elaboração do programa de reforma política de Lula quando candidato, acaba de dizer: "Para falar a verdade, o programa do [José] Serra era melhor do que o do Lula. Mais bem estruturado, mais claro. Talvez por isso ele tenha perdido".

JÁ O PROFESSOR de filosofia da Universidade de São Paulo, Paulo Arantes, diz com todas as palavras que "quando você promete consumo de massa, está prometendo guerra civil". No plano plurianual de Lula (para 2004-2007), afirma-se que se pretende fazer o país crescer a partir do incremento do consumo dos mais pobres. "É um convite ao recrudescimento da violência. Prometem o que não podem entregar", afirmou.

É PRECISO BUSCAR, no fundo da alma da sociedade brasileira, a criatividade capaz de gerar uma mudança de expectativa, de rumo. Há quem ache o Brasil capaz de desenvolver um projeto seu dentro do mundo "globalitário", termo que José Luiz Fiori usa em ensaio escrito para a revista Carta Capital, com o título "O Veto do Império". Nossas escolhas serão extremamente difíceis, complexas. Segundo Fiori, existe um veto a todo e qualquer tipo de projeto nacional autônomo, que posso ameaçar o status quo do sistema imperial articulado, a partir dos estados pós-modernos. Ou seja: não se pode mexer na situação dos países desenvolvidos, ricos. Se Bill Clinton testou o "imperialismo humanitário", seu sucessor, Bush Júnior prefere a guerra preventiva. Uma doutrina complementa a outra, opina Fiori. O norte-americano John J. Mearsheimer preconiza que a melhor maneira para qualquer Estado maximizar suas persperctivas de sobrevivência é tornando-se um país hegemônico em sua região - a preocupação do Brasil passa pela liderança na América Latina, a partir do Mercosul. Mas o escritor cita o exemplo chinês: "Se é do interesse da China ser o "hegemon" em sua região, não é do interesse da América que isso aconteça". Leia-se, por América, Estados Unidos, já incomodados com os sinais de projetos nacionais da Alemanha, da Rússia e do Japão.

CRUAMENTE, SER POBRE INTERESSA A OUTROS. Vale ler o ensaio de José Luiz Fiori. "Há muito que os homens descobriram que o melhor ataque preventivo de um Estado contra outro passa pelo bloqueio ou contenção do desenvolvimento econômico do adversário". Não é à toa que os países ricos esqueceram, há pouco, a proposta de Lula para um projeto mundial contra a fome.

O Morungaba, 12 de junho de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.
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Opinião - Saudade e elogios - José Aparecido Miguel

Meu querido Dorival Massarenti morreu há cerca de um mês. Era querido, com certeza, de Morungaba em geral. Fará falta, como símbolo e referência que era de nossa estância. Eu o homenageio, e tive a oportunidade de fazê-lo em vida, agradecendo simbolicamente pelo que ele representou para mim. Lembro dele carinhosamente, traduzindo o sentimento de muitos, muitos morungabenses. Era criança, de nove, dez anos. Ia buscar na casa-loja dele, como representante e distribuidor de publicações que era, os jornais que meus pais, donos de açougue e fábrica de lingüiça, assinavam, a gente lia e depois serviam para embrulhar carnes, previamente embaladas em antigos papéis pardos. Era assim.

Ainda com Seu Dorival, com quem o então menino conversava e recebia atenção, eu espiava os jornais. Era tempo de Folha da Manhã (hoje de S. Paulo), Diário da Noite, Diário de S. Paulo - título relançado há pouco tempo - Gazeta Esportiva e o tradicional O Estado de S. Paulo. Acabei trabalhando em dois deles. Meu gosto pelo jornalismo e informação, minha satisfação por escrever, contar um fato, certamente nasceu lá juntinho, dia após dia, muitos dias, com o Seu Dorival, um trabalhador. A bem da verdade, ganhei educação também com a professora Eunice Massarenti, a dona Eunice, sua mulher, que merece a admiração dos morungabenses. O mundo, que tendemos a olhar amargamente, tem gente boa, pessoas maiores. Dorival Massarenti era uma delas. Quando, em outubro de 2000, voltei mais efetivamente a Morungaba, encontrei-me com ele no Correio. Desde menino não o via. Lembrei-o que sou filho do Eleutério e da Helena. Nos abraçamos e ele chorou emocionado. Depois o visitei em casa, falamos outras vezes. Emociona-me sua morte. Muito grato, Seu Dorival, pelo exemplo de pessoa humana bonita que nos deixou.

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Os vereadores de Morungaba aprovaram, por unanimidade, o PMAT (Programa de Modernização Administrativa e Tecnológica), financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que dará à Prefeitura a oportunidade de investir em melhoramento de sua infra-estrutura, com evidente reflexo em benefícios para a população. São R$ 178 mil a baixo custo. O programa servirá, também, para a Infovia Municipal, projeto que conta com meu empenho voluntário e pessoal e tem forte apoio da prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, mas que precisa ser assumido pelo conjunto de nossa sociedade morungabense. O grupo de vereadores que faz oposição à Prefeita introduziu uma emenda na aprovação do financiamento, que obrigará nova votação a cada caso de remanejamento dos recursos do PMAT. Houve, então, uma unanimidade aparente. Em princípio, é politicamente normal, mas pode dificultar a atuação da Prefeitura. Basta citar que o projeto do PMAT levou dois anos para ser aprovado pelo BNDES. É claro que precisará de adequações. Vamos ver como a Câmara vai agir. Mesmo assim, quero destacar a postura de entendimento político de nossos vereadores e homenagear especialmente um deles - que participou da primeira votação -, o Jair Marciano, conhecido como Jair Avião, que morreu nos últimos dias. Muitos o elogiaram para mim. Jair estava em seu terceiro mandato. Faço referência também aos vereadores, Luiz Fernando Miguel e José Roberto Zem, a quem tive oportunidade de apelar pessoalmente em favor do projeto, considerando a importância do PMAT e da Infovia Municipal. Meu único interesse neste assunto, como cidadão daqui, é o desenvolvimento de Morungaba.

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Encerrando: há quem queira estranhar a minha liberdade de opinião, "de estar se metendo muito nas coisas de Morungaba", como já ouvi. Não me intimida. Vou exercer integralmente a minha liberdade de jornalista e, sempre, de cidadão.


O Morungaba, 2 de maio de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Norte-americana conhece Infovia de Morungaba

O projeto da Infovia Municipal de Morungaba foi um dos temas de encontro, terça-feira, dia 7 de maio, na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com a professora norte-americana Elizabeth Lowe, da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, como representante do programa PGL (Partnership in Global Learning ou Parceiros pela Educação à Distância Global). O projeto, desenvolvido pelo professor Leonardo Mendes, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp, foi citado como um dos exemplos da atividade do Larcom, o Laboratório de Redes de Comunicação, dirigido por ele.

O objetivo da reunião, com estudantes, dirigentes da Unicamp e convidados, foi a institucionalização da participação da instituição no programa Conexão do Saber, desenvolvido pelo PGL em inglês, português e espanhol. Leonardo Mendes revelou, na presença da prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, que a implantação da infovia de Morungaba será iniciada nos próximos meses, com a participação, por exemplo, da Padtec, empresa brasileira que produz e exporta fibras óticas.

O programa Conexão do Saber, que poderá ser integrado ao projeto de Morungaba, projetou a implantação inicial de 20 Estações do Saber em diferentes localidades. "Será um número efetivamente bem maior, considerando-se os municípios interessados em iniciativas assim", explicou o professor da Unicamp.
A professora Elizabeth Lowe - que, nos Estados Unidos, leciona literatura brasileira e acaba de traduzir obras de Machado de Assis - explicou que o PGL trabalha pelo desenvolvimento da educação, apoiada na tecnologia. Integram o PGL, além da Universidade da Flórida e da Unicamp, a Universidade de Monterrey, do México, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e a Fundação Getúlio Vargas, num trabalho apoiado por diferentes empresas.

"Pretendemos formar professores para as atividades de ensino à distância e os conteúdos de suas atividades serão desenvolvidos por eles próprios. Vamos desenvolver, também, outras iniciativas, a exemplo do treinamento online - via computadores -, serviços para a comunidade e implantação de museus virtuais para estudantes", disse.

O projeto da Infovia Municipal de Morungaba, segundo o professor Leonardo Mendes, segue o conceito de Rede Metropolitana de Comunicação, como já se desenvolve em Campinas, especificamente no controle de almoxarifado da área de saúde. Participaram também do encontro o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp, Rubens Maciel Filho, a representante da Funcamp (Fundação de Desenvolvimento da Unicamp), Iara Ferreira, o diretor do Departamento de Informática da Prefeitura de Morungaba, Ivan Carlos de Morais, o diretor da Secretaria Municipal de Cooperação Internacional da Prefeitura de Campinas, Djalma Valois Filho, e o jornalista José Aparecido Miguel, que dá apoio voluntário ao projeto da Infovia Municipal de Morungaba.

Djalma Valois Filho, da Prefeitura de Campinas, estimulador da difusão do software livre no País, demonstrou interesse na projeto morungabense e, em conversa com a prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, colocou-se à disposição para proferir palestra na cidade sobre o tema, além de apoiar seu desenvolvimento no âmbito da administração municipal.

Em junho, a prefeita, o professor Leonardo Mendes (Unicamp) e Iara Ferreira (Funcamp) estiveram em Brasília para tratar de captação de recursos federais para o projeto de Infovia Municipal.


Fonte: Prefeitura Municipal de Morungaba.
Maio e junho de 2003.

Opinião - Governo, poder e jornal - José Aparecido Miguel

Frei Betto, amigo pessoal e assessor especial da Presidência, disse que o PT de Luiz Inácio Lula da Silva ainda "não chegou ao poder, mas apenas ao governo". Mais: segundo ele, entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, têm ainda força suficiente para desestruturar um Governo. Sua fala surpreende, pois quem governa tem de exercer e conhecer seu poder, mesmo que, na sociedade globalizada, haja evidente diferença de forças entre países e corporações públicas ou privadas. A afirmação de Frei Betto levou o conceituado jornalista Clóvis Rossi, da Folha, a escrever na Folha de S. Paulo: "então, vamos combinar o seguinte: os ideólogos do PT param com a masturbação sociopolítica e o partido começa, de fato, a governar".
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O presidente Lula é a imagem completa da autoconfiança. Disse, em entrevista, que não vai cometer "nenhum erro em política, interna ou externa. Vou fazer o jogo político como jamais foi feito nesse nosso mundo velho de guerra". Boa sorte!
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O falecido governador Mário Covas ficaria surpreso. Ele havia vetado o perdão de uma dívida de R$ 125 milhões em ICMS-Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços, da empresa dona da marca McDonald’s no Brasil . Os deputados estaduais do PSDB derrubaram seu veto e o pedido de explicações sobre o tema. É o péssimo exemplo que fica no ar.
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Se continuar investindo no turismo, além de em outras áreas, Morungaba terá um futuro de geração de empregos e desenvolvimento. Há um projeto de empreendimento imobiliário, em Itatiba, o Villa Trump, que que promete ser o mais luxuoso condomínio residencial do País. A iniciativa é do milionário norte-americano Donald Trump, em sociedade com a família Meyerfreund, antiga dona da Chocalates Garoto. Além de beneficiar Itatiba, vai sobrar turista para Morungaba
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Esta edição do Acontece! em Morungaba é histórica. Este jornal chega à centésima edição. É um motivo de alegria. Tenho certeza que este feito resulta de muito trabalho e sacrifício. Independentemente de eventuais erros – como em toda atividade humana -, a imprensa dá grande contribuição à comunidade em que atua. É o caso aqui. Se não existisse, certamente muitas bandeiras positivas e locais nem seriam comentadas. A retribuição, certamente, terá de vir do apoio dos leitores, assinantes e da propaganda feita aqui. Parabéns ao jornal.
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Tenho também uma alegria especial, que peço licença para dividir com os leitores. Já sou feliz por ter nascido aqui. Agora, a Câmara Municipal de Morungaba, dia 13 de maio, por unanimidade, me conferiu o honroso título de "Gratidão do Povo Morungabense", de acordo com o projeto de decreto legislativo número 4 de autoria do vereador Luís Fernando Miguel. Na verdade, eu é que devo agradecer a Morungaba. Talvez o tenha recebido por trabalhar, voluntariamente, por propostas de desenvolvimento modernas, a exemplo da Infovia Municipal que está em processo de efetiva realização. Entendo que cada cidadão deve dar sua contribuição à comunidade que o recebe e o ensina ao longo da vida. Dia 20 de junho vou receber o título que motivaria, seguramente, um grande orgulho para meus saudosos pais, os morungabenses Eleutério Miguel e Helena Roncada Miguel. Muito obrigado Fernando. Muito obrigado a todos os vereadores.

O Morungaba, 29 de maio de 2003. Publicado também no jornal "Acontece! em Morungaba".

Opinião - As (in) verdades da guerra - José Aparecido Miguel

O doutor em geografia humana pela Universidade de São Paulo e editor do jornal "Mundo Geografia e Política Internacional", Demétrio Magnoli, escreveu um artigo importante sobre a guerra anglo-americana e mais um punhado de australianos contra o Iraque do ditador Saddam Husseim: "há uma guerra na mídia global e outra no Iraque. Olhe para as imagens como uma seleção parcial da realidade. Desconfie de todas as notícias. Boatos e rumores sobre morte, ferimento ou fuga de Saddam Hussein, seus filhos e altas figuras do regime podem ser verdadeiras, mas provavelmente são plantadas. A ofensiva da informação está em curso". Na opinião de Demétrio Magnoli, George W. Bush não está preparado para uma guerra de verdade. "Suas forças vencerão no teatro militar do Iraque, mas serão derrotadas no campo de batalha político das cidades árabes, européias e norte-americanas. Daqui para a frente, todas as manobras táticas americanas estarão voltadas para evitar esses desdobramentos. Inclusive o noticiário da mídia global".
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O jornalista Robert Fisk do "The Independent", dos Estados Unidos, escreveu que os EUA estão mais uma vez utilizando munições de urânio enfraquecido no Iraque, como fizeram em 1991. "(...) Fuzileiros navais americanos tinham convocado um avião A-10 para combater "bolsões de resistência" - mais um exemplo de jargão militar empregado pela BBC -, mas deixou de mencionar que o A-10 usa munição de urânio enfraquecido. Assim, estamos espalhando aerossóis de urânio em explosões em campos de batalha no sul do Iraque, e ninguém está nos informando disso. A história iraquiana não será completa sem uma nova história de "martírio" na batalha do país contra forças estrangeiras de ocupação". Fisk comenta que a guerra vai durar mais tempo que o previsto. "É claro que tudo talvez não passe de erro de cálculo. É possível que o castelo de cartas iraquiano seja mais frágil. Mas a guerra rápida e fácil, o conflito do "choque e pavor" - a frase utilizada pelo Pentágono é um slogan tirado das páginas da revista nazista "Signal" - já não parece ser tão realista assim. As coisas estão dando errado. Não estamos dizendo a verdade. E os iraquianos estão se beneficiando disso". A BBC é a rádio estatal do Reino Unido.
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O presidente George W. Bush já não sabe mais sobre a duração da guerra, que seria rápida e "cirúrgica". Pediu 74 bilhões e 700 milhões de dólares para gastar com a guerra e a "reconstrução do Iraque".
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O brilhante jornalista brasileiro Elio Gaspari, que publica seus artigos em importantes jornais brasileiros, escreveu que "George W. Bush conseguiu ressuscitar o espírito da civilização européia, e o mundo lhe será grato por isso. Infelizmente, está estimulando o antiamericanismo do Terceiro Mundo e, com ele, o de Pindorama", como apelida o Brasil. "O antiamericanismo tem isso de terrível. Leva pessoas inteligentes a se juntar a Saddam Hussein por causa de George W. Bush. Detestar Bush pode ser um ato de inteligência, mas se perceber torcendo por Saddam ao ouvir a notícia de que morreram 12 americanos num combate é uma mortificação". Gaspari recorda que, em 1990, quando estourou a Guerra do Golfo, Saddam Hussein transformou em escudos humanos 450 trabalhadores brasileiros que viviam no Iraque. "Deixou-os sair graças a uma costura de 23 dias feita pelo embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que gramou 45 encontros, inclusive com o chanceler Tarik Aziz".
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Manifestações pela paz acontecem em todos os lugares do mundo e em quase todas as grandes cidades dos Estados Unidos, "para glória da civilização americana", como escreve Gaspari. O desastre está feito. Mas há uma gritaria pela paz que precisa se fazer ouvir. Como uma flor que nasce do pântano e, no caso da guerra, do sangue de seus combatentes, espero que surja do Iraque, dos conflitos todos, um novo mundo, voltado para a paz e a prosperidade dos homens.

O Morungaba, 26 de março de 2003. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - Para comemorarmos - José Aparecido Miguel

Morungaba tem uma notícia a comemorar. Até o jornal O Globo, dia 23 de janeiro, fez referência positiva ao município. Como escrevi na reportagem de capa desta edição, com detalhes, Morungaba é um dos 16 primeiros municípios brasileiros que oferecem padrão de vida adequado para a população. Mais gente, portanto, vai associar o nossa estância climática a um fato positivo. Não é pouco. Agrega novo valor de qualidade ao município. É um tema para ser divulgado, uma peça de marketing de atração turística. Na média geral, a estância mereceu o sexto lugar entre os municípios paulistas de menor exclusão social. Destaca-se, significativamente, o baixo Índice de Violência aqui, que comprova comentários anteriores que fiz sobre pequenas e médias cidades. É óbvio que nem tudo é maravilha. Mas, avaliando cada aspecto, surpreende a pontuação máxima alcançada no Índice de Emprego Formal, que certamente considera uma margem de erro. Como estamos no Brasil - um país de contrastes - já não é surpresa o fraco desempenho no Índice de Desigualdade, ponto que todos precisamos melhorar. Importa, afinal, que o conjunto da avaliação é elogiável, tem a credibilidade de pesquisadores de três universidades e toma por base o Censo de 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), outra instituição respeitada. Portanto, devemos comemorar.

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Quem deve estar comemorando é o presidente Lula. O chamado Índice de Satisfação do Cidadão, pesquisado pelo Instituto Sensus, para a Confederação Nacional dos Transportes, é atualmente de 53,8%, contra 49,4% em outubro. A primeira pesquisa sobre o novo governo - com duas mil pessoas nas cinco regiões do País - mostra que 83,6% dos entrevistados aprovam o governo Lula, 6,8% não aprovam e 9,7% não responderam.

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Nem tudo são flores, como sentiu o presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoíno, um político conhecido pela sua capacidade de diálogo, que levou uma torta na cara, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, desferida por simpatizantes dos petistas. Ele explicava a importância da presença de Lula no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), que provocou críticas de uma ala do partido, aquela que combate a globalização e o sistema financeiro, como se fosse coisa simples. O precedente da torta na cara, um ato condenável, é ruim. Amanhã, quando a lua-de-mel com o novo governo acabar, abre espaço para violência. Que prevaleça o diálogo e a conversa, que pode ser séria e respeitosa.

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José Henrique Ferreira de Jesus foi crucificado esta semana. Perdeu sete pessoas da família na casa que a chuva derrubou em Taboão da Serra. Os deslizamentos e enchentes aconteceram também em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte etc., como muitos viram pela televisão. É um drama que se repete a cada Verão. Fala-se, fala-se agora. Depois, lá no Inverno, ninguém se lembra mais de dramas chocantes como o do brasileiro José. Como se sentiriam, diante dele, gente como os ex-prefeitos Paulo Maluf, Celso Pitta e atual prefeita Marta Suplicy, para citar alguns nomes. Será que sobra um segundo para que, constrangidos, façam um mea-culpa compreensível e pensem em providências preventivas e efetivas? Sei não! Marta, depois de Davos, preferiu dar uma esticada por Paris. Pobre José! Resta um alerta: como todos sabem, teremos chuvas também no Verão de 2004.


O Morungaba, 30 de janeiro de 2003. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Morungaba é destaque em qualidade de vida

Morungaba é um dos 16 primeiros municípios brasileiros que oferecem padrão de vida adequado para a população. No Estado de São Paulo, é o sexto melhor, depois de São Caetano do Sul, Águas de São Pedro, Santos, Holambra e Vinhedo. Ele é um dos destaques do Atlas da Exclusão Social no Brasil, pesquisa coordenada pelos economistas Márcio Pochmann e Ricardo Amorim, com a participação de pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), USP (Universidade de São Paulo) e PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). O trabalho, que se transformou em livro editado pela Cortez Editora, com 224 páginas, vendido a R$ 29,00 cada, foi apresentado no Fórum Social Mundial, encerrado segunda-feira passada (27.01.03) em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

A posição de Morungaba, com seus 10 mil habitantes, é mais uma qualidade a contribuir com sua imagem positiva de estância climática. Ela tem o menor índice de exclusão social entre os sete municípios limítrofes: Amparo, Bragança Paulista, Itatiba, Campinas, Pedreira e Tuiuti. Assim, no caso dos municípios que estão entre os 100 melhores, fica com a 16a posição, enquanto Campinas aparece na 21a, Itatiba na 60a e Amparo na 74a. Na região de Campinas, perde somente para Holambra, na 7a posição, e para Vinhedo, na 10a. Está à frente de estâncias tradicionais como Rio Quente (GO), com a 50a melhor marca, Poços de Caldas (MG), na 69a, e Serra Negra, na 97a.

O Atlas da Exclusão Social no Brasil revela que, entre os 5.507 municípios brasileiros, 42% tem alto índice de problemas. Apenas 200 oferecem padrão de vida adequado, a partir da melhor situação social.

O Índice de Exclusão Social (IES), que varia de zero a um, mostra que quanto mais próximo de zero pior é a situação. Assim, Morungaba recebeu 0,705, Campinas 0,681, Itatiba 0,646 e Amparo 0,638. A posição morungabense, em detalhes: 0,784, no Índice de Pobreza; 0,725, no Índice de Juventude; 0,873, no Índice de Alfabetização; 0,520, no Índice de Escolaridade, 1,000 no Índice de Emprego Formal; 0,964, no Índice de Violência; 0,147, no Índice de Desigualdade.

O município de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, com 0,864, foi considerado o mais adequado, seguido de Águas de São Pedro (0,835) e de Florianópolis (0,815). A capital paulista, São Paulo, fica com a 30a posição. O município de maior exclusão social do País é Jordão, no Acre.
O IES é considerado mais completo que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), embora ambos tenham a mesma base, o Censo 2000, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


O novo indicador, que destaca Morungaba, analisa mais variáveis, segundo informação disponível no endereço eletrônico da Unicamp (www.unicamp.br). Enquanto o índice da ONU analisa educação, renda e saúde/longevidade - o que os pesquisadores consideram insuficiente -, o Atlas da Exclusão Social inclui, por exemplo, homicídios e emprego formal. (Texto de José Aparecido Miguel, para o semanário Acontece! em Morungaba - 30.01.03)

Opinião - Surpresas desagradáveis - José Aparecido Miguel

Final de governo abre espaço para surpresas desagradáveis, especialmente neste Brasil onde o acesso à informação é reduzido. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) acaba de montar uma Consulta Pública, capaz de provocar um retrocesso na inclusão digital brasileira. Quem revela é o jornalista Matinas Suzuki, que dirige o portal iG. "Graças ao provimento de acesso gratuito, a Internet cresce no Brasil em ritmo exponencial. Os avanços na inclusão digital são palpáveis. O País é pobre e a Internet grátis foi a maneira que encontramos de ter números competitivos com os dos países ricos", escreve. A consulta abre espaço para os adversários do acesso gratuito, os que querem, em nome do lucro, descriminar especialmente os mais carentes.

MATINAS SUZUKI relata que, segundo dados do Ibope, 53% dos brasileiros que usam a Internet utilizam o acesso gratuito. Dele se beneficia uma massa de estudantes, de escolas, de hospitais, de pequenas e médias empresas, de serviços públicos, de ONGs (Organizações Não Governamentais) etc. São pessoas físicas e jurídicas que pagam as ligações telefônicas pelo tempo em que ficam na Internet e que recebem de volta, como benefício social, o provimento de acesso gratuito. Concordo com ele. "Não podemos nos calar diante de uma virada de mesa que ameaça acabar com o provimento de acesso gratuito, excluindo milhões de brasileiros dos benefícios do mundo digital e comprometendo irremediavelmente o futuro do País".

DEZEMBRO é mês da utopia, do sonho de uma paz singela ou superior, de um mundo melhor, festejado na virada de cada ano pelo nosso calendário. A realidade, porém, mostra a cada dia um futuro preocupante, onde o dinheiro é o poder maior e, em seu entorno, tomam-se as mais influentes decisões, que afetam o dia-a-dia de todos e de cada um de nós. Pior, de novo, para os mais carentes de tudo. O Globo volta a um assunto polêmico sobre os Estados Unidos: a Secretaria de Defesa está estudando a possibilidade de lançar-se numa guerra secreta de propaganda para ganhar a opinião pública de países amigos e neutros, segundo fontes no governo americano. Já se tratou do tema, até que alguém acenasse com a divulgação de notícias falsas para que os Estados Unidos obtivessem apóio em ações militares contra outros países. Houve uma reação que acabou com um projetado organismo em seu nascedouro.

JANIO DE FREITAS escreve na Folha sobre o foro privilegiado de autoridades, aprovado nos últimos dias no Senado. Segundo ele, está satisfeito, pelo PT, o pedido de Fernando Henrique Cardoso na contrapartida da "transição democrática" (...) "É de justiça reconhecer a colaboração decisiva do PT para assegurar, por essa novidade inconciliável com a Constituição, julgamento em condições especiais para ex-presidente, ex-ministros, ex-governadores, ex-prefeitos e ex-secretários acusados judicialmente de crime de improbidade", comenta. Os réus das 4.753 ações judiciais contra autoridades ganharam um presente.

É VERDADE que a senadora Heloísa Helena, do PT de Alagoas, apresentou emenda contra o foro privilegiado para ex-presidentes e ex-ministros. Foi derrotada por 27 votos, contou 15 a favor e uma abstenção. Heloísa Helena mantém uma postura coerente com o seu passado e já irrita a cúpula do partido, que precisa conciliar e fazer alianças para governar.

Bom Natal! Feliz 2003 a todos!


O Morungaba, 18 de dezembro de 2002. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Opinião - Futuro das Infovias Municipais - Professor Leonardo Mendes

Unicamp desenvolve projeto pioneiro com a Prefeitura de Morungaba.

Os recursos da internet, em projetos de rede metropolitana de interesse público, ampliam-se a cada dia. Existe um modelo que certamente irá mudar a maneira como o mundo faz comunicações. A rede de telefonia convencional da atualidade é uma rede monomídia interativa, a rede de distribuição de TV é uma rede multimídia não interativa e a internet é uma rede multimídia interativa. Só esta definição já abre um grande abismo entre as redes de telefonia e TV e a internet.

Com o atual desenvolvimento tecnológico das redes de comunicações de dados, todos os serviços oferecidos em outras redes poderão ser obtidos diretamente da internet e em condições técnicas melhores. Essa nova encarnação da internet costuma ser chamada de internet 2 ou supervia de informação.
Para que a internet 2 chegue ao público comum, existem ainda vários obstáculos a serem removidos. Os modelos de acesso oferecidos hoje pela internet, tanto ao usuário residencial quanto ao usuário corporativo, são apenas paliativos. Esses modelos são caros e de baixa qualidade técnica. Além disso, o interesse comercial das empresas de telecomunicações tem imposto limitações no uso dos recursos da internet. Por exemplo, as empresas de telefonia costumam oferecer o acesso banda larga via Adsl, mas fazem o que podem para impedir o usuário de usar os recursos de VoIP (voz sobre internet), mesmo quando estes são legalmente autorizados. Assim, a regulamentação do setor, por enquanto, é um problema, quando devia ser solução.

Para que o modelo de internet possa se tornar viável como ambiente de convergência de todos os serviços é necessária a criação de redes de teste que possam servir como referência para o estabelecimento de padrões, estudos de viabilidade técnica e econômica, além do desenvolvimento de novas aplicações e tecnologias. Com esse objetivo, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Prefeitura da Estância Climática de Morungaba - pequena cidade a 103 quilômetros de São Paulo - estabeleceram uma cooperação para a criação de uma infovia municipal baseada nos padrões da internet de alta velocidade ou internet 2.

Essa infovia irá inicialmente conectar as escolas, os postos de saúde e os prédios públicos do município. O projeto prevê a instalação de uma infra-estrutura de rede de comunicações de alta velocidade baseada em tecnologia de fibra óptica e de redes sem fio. Serão implantados e/ou desenvolvidos sistemas e aplicações para informatização municipal e melhoria do serviço público em áreas como saúde e educação. Serão instalados quiosques públicos para uso de toda a população e desenvolveremos pesquisas de novas tecnologias, como painéis de VoIP para as regiões metropolitanas.

A Unicamp e a Prefeitura de Morungaba, por isso, estão atuando juntas na convocação dos setores público e privado para colaborar no projeto. O projeto de rede metropolitana é um modelo que certamente irá mudar a maneira como o mundo faz comunicações. Cabe ao Brasil decidir: sai na frente desta vez ou espera e paga, como tem feito até agora. Aqui, a pequena Morungaba poderá marcar para o nosso país o seu nome na história.

Leonardo Mendes - Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fonte: Gazeta Mercantil (SP), 19.12.2002.

Opinião - Eleição, frustração e alegria - José Aparecido Miguel

O resultado eleitoral de domingo passado motiva espanto, frustração, alegria e esperança, contrastes presentes na sociedade brasileira. Houve tempo em que o eleitor escolheu "Cacareco", um rinoceronte, lembram-se os mais velhos. Há outros casos, como o do "Macaco Tião", no Rio de Janeiro. Agora assistimos a eleição do caricatural, histriônico Enéas Carneiro para a Câmara Federal, com mais de 1 milhão e 556 mil votos, um recorde histórico.

Sua mensagem é simplesmente o bordão "Meu nome é Enéas", o título de médico e a pretensa genialidade que esconde uma personalidade autoritária, chegada a uma bomba atômica e avessa à democracia que, contraditoriamente, o coloca no palco de Brasília.

Não foi à toa que Enéas criou, em 1989, o Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona. Sua votação, pelo cálculo da proporcionalidade, garante ao Prona mais cinco deputados federais, um deles, o homeopata Vanderlei Assis com ínfimos 275 votos. O discurso de Enéas é um primor de ofensa a milhares que o elegeram. Para ele, seu partido é o dos escolhidos, os melhores, os inteligentes; não dos semi-analfabetos ou analfabetos funcionais, como ele mesmo define.

A candidata a deputada estadual Havanir Nimtz, "meu nome é Havanir", foi a mais votada do Estado de São Paulo com aproximadamente 679 mil votos, levando consigo políticos praticamente desconhecidos. Havanir já exerce mandato parlamentar pelo Prona. É vereadora em São Paulo. E não há nada de especial que a tenha destacado.

A escolha de tipos como Enéas e Havanir, e há também gente eleita por ser filho de radialista etc., deveria motivar a atenção da classe política. Ela esconde uma descrença em políticos que se apresentam com promessas incabíveis ou que não são sérios. Mas pode crer que existe político sério, preocupado em contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Vale destacar que fora das soluções políticas só existe o fascismo, o nazismo, a mudez e o medo contra o diálogo democrático. Idiota político, já escreveu um pensador, é aquele que esquece que o preço do pãozinho e a lei que nos rege nascem das decisões políticas.

Para que a frustração não aumente, resta torcer para que o Prona se limite e seja limitado ao próprio folclore – à graça que não tem - pelas forças políticas sérias do País.

Mesmo assim, esta eleição dá motivo para a alegria. O eleitorado está mais atento. Gente competente, séria, também foi escolhida. Outros políticos, como Fernando Collor, Paulo Salim Maluf e seu ex-discípulo Celso Pitta, foram riscados do mapa. Por enquanto... Foi você, eleitor, quem decidiu. É você quem escolherá dia 27 de outubro o próximo Presidente da República, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB). Pense bem para não se frustrar.


O Morungaba, 8 de outubro de 2002. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”. 

CPqD: infovia em Morungaba

O CPqD - Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, colocado entre os mais conceituados pólos tecnológicos do mundo em telecomunicações e tecnologia da informação, estudará sua participação no projeto de Infovia Municipal de Morungaba, conduzido pelo professor Leonardo Mendes, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com o apoio da Funcamp (Fundação de Desenvolvimento da Unicamp).

A possível parceria entre as três entidades - a Unicamp é também um centro de inteligência reconhecido no Brasil e no exterior - foi anunciada, nesta semana, para a prefeita Maria Cecília Pretti Rossi, em reunião com diretores do CPqD, que durou cerca de duas horas. A proposta de Morungaba foi avaliada positivamente pelo vice-presidente de Tecnologia do CPqD, Cláudio Aparecido Violato, juntamente com os diretores Júlio Cezar Rodrigues Martorano (Soluções para Governo), José Francisco Moreto Silveira Franco (Tecnologia e Serviços) e Guilherme Dias dos Santos, gerente de Projetos.

No encontro, realizado dia 5, o professor Leonardo Mendes expôs seu projeto, acompanhado de Iara Regina Ferreira, da Coordenação de Parcerias da Unicamp. "Nossa proposta libera as comunicações para o cidadão. É um projeto amplo, que poderá mostrar resultados a partir de seis meses ou um ano de sua implantação. Em conjunto com a Prefeitura, estamos trabalhando por verbas adequadas ao porte do projeto. Já temos sinais claros de possibilidades de liberação, o que concretizará o início da Infovia Municipal de Morungaba", explicou.

Segundo Mendes, responsável pelo Departamento de Comunicações da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp, a população de Morungaba terá muitos ganhos com a infovia, envolvendo uma ampla série de áreas, a exemplo de educação, saúde e administração pública. "A Prefeitura poderá ter um sistema próprio de telefonia, economizando recursos que poderá investir em outras prioridades", enfatizou o professor, que brevemente fará uma palestra sobre o assunto na Câmara Municipal de Morungaba.

A Infovia Municipal permitirá que a cidade tenha, por exemplo, acesso rápido à Internet, serviço de telefonia sobre a Internet, serviços de vídeo-conferência, serviços de atendimento público à saúde, serviços públicos comunitários de e-Business (comércio eletrônico), serviços públicos de e-Learning (educação à distância) e serviço de segurança multimídia em rede privada.

A Unicamp irá elaborar o projeto tecnológico e preparar os professores da rede pública para realizar o projeto educacional associado. Tal ação será desenvolvida dentro do projeto PGL (Partnership in Global Learning) que tem como parceiros a Florida University dos EUA, o ITESM do México, a PUC/RJ, a FGV/SP, além da Unicamp.


A prefeita Maria Cecília Pretti Rossi esteve na reunião acompanhada de Ivan Morais, do Departamento de Informática da Prefeitura, de sua secretária, Márcia Aparecida Domingos, e do jornalista José Aparecido Miguel, autor da sugestão inicial do projeto, que participa voluntariamente do trabalho. A futura Infovia Municipal, segundo a prefeita, é recebida com entusiasmo também no Ministério das Comunicações. "Vamos ter, em Morungaba, quiosques públicos tanto no centro como em bairros populares. Além de trabalhar pelo turismo, queremos fazer de Morungaba um showroom de tecnologia, que atraia empresas de ponta. A possível parceria anunciada pelo vice-presidente de Tecnologia do CPqD, Cláudio Aparecido Violato, mostra que estamos no caminho certo".

O jornalista José Aparecido Miguel comentou, depois do encontro, que a Infovia Municipal de Morungaba é uma proposta de interesse público, que não pode, nem deve, ser confundida com comércio de computadores ou montagem de redes para condomínios. "Não é apenas um projeto de governo, é um projeto da população, da sociedade, que pode ser ampliado a outros municípios. Assim, pode ser visto como uma ação que interessa ao Estado, independentemente do governo do momento".

No CPqD, onde almoçou, a prefeita de Morungaba encontrou-se com Sílvio Aparecido Spinella, diretor-presidente da IMA (Informática dos Municípios Associados), empresa vinculada à Prefeitura de Campinas. Ao saber da proposta morungabense, Spinella destacou a importância da comunicação e da informação livres, que integram o projeto do professor Leonardo Mendes.

O CPqD, sediado em Campinas, é considerado o maior centro de pesquisa da América Latina, segundo a própria entidade. Conta com mais de 1.000 profissionais altamente qualificados. Atende quase todas as operadoras do Sistema de Telecomunicações no mercado brasileiro e atua em diferentes setores da economia, como o governamental, o setor elétrico e o mercado financeiro.

O CPqD colabora, significativamente, para o desenvolvimento da Sociedade da Informação gerando, explorando e difundindo tecnologias que aceleram a integração das organizações e comunidades. No ano de 2000, fincou a sua bandeira no Vale do Silício (EUA). Com uma estrutura operacional totalmente independente, garante presença no maior e mais competitivo mercado do mundo.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal da Estância Climática de Morungaba.

O Morungaba, outubro de 2002.